quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Walt Whitman



Folhas de Relva

Transeuntes e pedintes me rodeiam,
Gente que eu cruzo. . . . . o efeito da aurora da minha vida . . . . . ou do bairro e da 
              cidade onde vivo . . . . . ou dessa nação,
As últimas notícias . . . . descobertas, invenções, sociedades . . . . velhos e novos autores,
Jantares, trajes,  sócios, olhares, elogios, funções,
A indiferença real ou simulada de uma mulher ou homem que eu esteja amando,
A doença de um chegado - ou a minha mesmo . . . . ou imprudência . . . .ou perda
               ou falta de grana . . . . . ou depressões ou euforias,
Dia e noite essas coisas me alcançam e de novo partem de mim,
Mas nada disso é Eu mesmo.

Além do empurra-empurra e do trânsito está o que eu sou,
Que se levanta feliz, complacente, compassivo, preguiçoso, unitário.
Que olha pra baixo, fica ereto, ou apóia o braço num indefinível impalpável descanso,
Que olha com a cabeça pensa pro lado curiosa pra saber o que vem por aí,
Dentro e fora do jogo ao mesmo tempo e observando e admirado com isso.

Olho por trás e vejo meus dias onde suei pra atravessar o nevoeiro com linguistas e
                 debatedores,
Não ironizo nem argumento . . . . só testemunho e espero. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Charles Baudelaire



O Pintor da Vida moderna

Mas é chegada a noite. É a hora estranha e incerta em que as cortinas se fecham, em que as cidades se iluminam. O lampião de gás mancha a púrpura do sol poente. Honestos ou desonestos, sensatos ou insanos, os homens dizem para si mesmos: “Enfim o dia acabou!”. Os homens de conhecimento e os de má vida pensam no prazer e correm todos ao lugar de sua preferência para beber a taça do olvido. O Sr. G. será o último a ir-se embora de onde quer que possa resplandecer a luz, ecoar a poesia, fervilhar a vida, vibrar a música; de onde quer que uma paixão possa posar para o seu olhar, de onde quer que o homem natural e o de convenção se mostrem numa beleza estranha, de onde quer que o sol ilumine as alegrias passageiras do animal depravado! [...] Agora, no momento em que os outros dormem, esse homem está curvado sobre a mesa, lançando sobre uma folha de papel o mesmo olhar que há pouco fixava sobre as coisas, esgrimindo com seu lápis, sua caneta, seu pincel, respingando no teto a água do copo, limpando a pena na camisa, apressado, violento, ativo, como se temesse que as imagens lhe escapassem, brigando sozinho, esbarrando em si mesmo. E as coisas renascem sobre o papel, naturais, e mais que naturais; belas, e mais que belas; singulares e dotadas, como a alma do autor, de uma vida em estado de exaltação. A fantasmagoria, ele a extraiu da natureza. Todos os materiais que abarrotavam a memória agora se ordenam, se arranjam, se harmonizam e sofrem essa idealização forçada que é o resultado de uma percepção infantil, isto é, de uma percepção aguda, mágica, graças à ingenuidade!