quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Lucian Blaga

A SAUDADE

Sedento bebo teu perfume

e seguro teu rosto
com ambas as mãos,

como quem segura na alma um milagre. 


Queima-nos a proximidade,
olhos nos olhos,
como estamos.
E contudo me sussurras: "Tenho tanta saudade de ti!" 


Falas tão misteriosa e desejosa,

como se eu estivesse exilado em outro mundo.

Mulher.
que mares levas no peito, e quem és?
Canta ainda uma vez mais tua saudade,
por que te ouça
e os instantes me pareçam botões prenhes
de que florescessem de fato... eternidades.

• De Poemele Luminii (Os Poemas da Luz), 1919

sábado, 17 de outubro de 2009

Juan Gelman






los ilusos


la esperanza fracassa muchas veces, el dolor jamás. por
eso algunos creen que más vale dolor conocido que dolor 
por conocer. creen que la esperanza és ilusión. son los
ilusos del dolor.




quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mia Couto


Poema de Despedida

Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo

sábado, 3 de outubro de 2009

Lucian Blaga

Aos leitores


Aqui é minha casa. Ali ficam o sol e o jardim com colméias.
Vocês vêm pela trilha, olham da porta por entre as grades
e esperam que eu fale. ... Por onde começar?
Creiam em mim, creiam em mim,
sobre seja o que for pode-se falar quanto se queira:
sobre o destino e sobre a serpente do bem,
sobre os arcanjos que lavram com o arado
os jardins do homem,
sobre o céu para onde crescemos,
sobre o ódio e a queda, tristezas e crucifixões
e acima de tudo sobre a grande travessia.
Mas as palavras são as lágrimas de quem teria desejado
tanto chorar e não pôde.
São tão amargas as palavras todas,
por isso... deixem-me
passar mudo por entre vocês
sair à rua de olhos fechados.

(1924)